Rafael Vieira Silva
Padre e Jornalista Profissional
Uma biografia é sempre uma reconstrução. Nessa tarefa, quase sempre, evidenciamos grandes vitória acadêmicas ou profissionais. Deixamos pouco espaço para a dor, a luta, o desanimo e o fracasso. E eu poderia encher esse espaço contando muitas experiências desse tipo, mas não quero aborrecê-los com uma ladainha. Vou, de todo modo, apresentar algumas outras experiências que foram marcantes, a título de partilha com você que acessou esse texto. Peço, naturalmente, que você tenha compreensão com as minhas escolhas e agradeço sinceramente sua atenção e paciência em me acompanhar.
Nasci, no início do terceiro ano da sexta década do século passado, em uma cidade remota do estado de Goiás. Localizada numa região de grandes extensões de pecuária de corte e que recebe o nome de um dos rios mais lindos do mundo. Minha terra é Mozarlândia e se encontra no noroeste do estado, no Vale do Araguaia. Vivi por lá até encerrar o Ensino Fundamental. Entrei no Seminário com 15 anos incompletos. Frequentei o Ensino Médio em um Colégio do bairro de Campinas, em Goiânia (GO). Cursei um ano de Filosofia. Saí do Seminário para nunca mais voltar. Conheci Barreirinhas (MA) e era lá que eu pretendia construir minha história de vida. Não deu certo. Eu tinha menos de 19 anos de idade quando vivi essa experiência que durou apenas 20 dias. Voltei para o Seminário, completei o biênio de Filosofia e saí de novo, mas dessa vez, pensando em voltar. Fiquei somente seis meses fora, trabalhei numa papelaria. Voltei e já entrei no pré-noviciado. Professei meus primeiros votos religiosos poucos dias depois de ter completado 22 anos. Estudei Teologia. No terceiro ano passei no vestibular para Comunicação Social na Universidade Federal de Goiás. Conclui Teologia e depois de ordenado, já em Brasília, ingressei no meio do curso de Jornalismo do CEUB.
Minha primeira experiencia sacerdotal se deu na paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, no Lago Sul, em Brasília e nos primeiros dois anos, além de estudar Jornalismo, auxiliei nos trabalhos do Centro de Pastoral Popular. Tive a oportunidade de sair pela primeira vez no País e no final daquele ano no qual completei 27 anos de idade, eu já me encontrava em Roma, na Itália, onde fiz o Mestrado em Teologia Moral na Pontifícia Università Lateranense, do Vaticano, e obtive um título Master em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo Televisivo no Centro Internazionale di Opinione Pubblica, de Roma. Ainda deu tempo de fazer um trabalho missionário junto às comunidades portuguesas da região de Berna, na Suiça, conhecer Belfast, na Irlanda do Norte e de começar uma maravilhosa história de contatos pastorais com a diocese de Oakland, na Califórnia, nos Estados Unidos. Fiquei muito ligado aos portugueses dessa região da América do Norte por incríveis 10 anos nos quais fiz um programa de evangelização por meio da Rádio KSQQ, de San José.
Voltei para o Brasil e estive por vários anos servindo na coordenação das emissoras da Fundação Dom Stanislaw Van Melis, da Diocese de São Luís de Montes Belos (GO) e na então Gráfica e Editora Redentorista. Enquanto isso, estudei Psicanálise Clínica à distância e presencial numa sucursal de Brasília da Associação Nacional de Psicanálise Clínica, a ANPC, que tinha sede no Rio de Janeiro (RJ). Quatro anos mais tarde, às vésperas do ano do Jubileu de 2000 anos do nascimento de Cristo, fui convidado para fazer parte da equipe de comunicação em língua portuguesa da Rádio Vaticano. Fiquei por pouco tempo nesse trabalho porque, pela primeira vez na vida, senti alguns sintomas estranhos da depressão. Me tratei no Canadá e voltei ao Brasil para continuar o trabalho missionário, em Brasília. No início desse século, quando eu já estava com 40 anos de idade, eu me encontrava na direção da Rádio Difusora de Goiânia e acabei servindo por mais de 6 anos à Arquidiocese de Goiânia como Vigário Episcopal para a Comunicação.
Quando eu já estava pertinho de completar meus 50 anos de idade, recebi o comunicado de que a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, a CNBB, me convidara para assumir a Assessoria de Imprensa da entidade. Trabalhei muito e tive a felicidade em servir à Igreja no Brasil amparado por chefes iluminados e na companhia de uma estupenda equipe de jovens jornalistas. Mal começara essa experiência tão boa e já tive um convite do Governo Geral oferecendo uma maravilhosa oportunidade de servir a Congregação do Santíssimo Redentor, em Roma, respondendo pela direção do Escritório Central de Comunicação. No primeiro período de férias desse trabalho, no Brasil, eu fui fazer um exame de prevenção de câncer e tive o intestino perfurado acidentalmente. Isso resultou em momento um horrível com cirurgia, seguido pelos primeiros sintomas da síndrome do pânico e da instalação de uma depressão aguda. Precocemente deixei o trabalho da Congregação depois de conseguir montar um Planejamento Estratégico que contemplava ações nos cinco continentes e em 7 idiomas. Quando achei que nunca mais seria alguém minimamente prestável na vida missionária, me voluntariei para ajudar meus ex-colegas de trabalho na CNBB numa assembleia geral em Aparecida (SP) e naquela ocasião fui chamado para retornar ao trabalho na Conferência, dessa vez como assessor nacional da Comissão Episcopal Pastoral para a Comunicação. Pouco tempo depois, acumulei com a volta à Assessoria de Imprensa onde fiquei até o ano em que completei 56 anos de idade.
Em seguida, continuei meu caminho e passei a produzir e apresentar um programa de entrevistas na recém-nascida TV Pai Eterno. No ano seguinte, fui convocado pelo Superior Provincial e assumi a direção geral da emissora. Contando com mudanças nas minhas funções, permaneço até hoje nesse trabalho, considerando que escrevo em dezembro do ano que completei 61 anos de idade. Nos últimos 24 anos, escrevi e publiquei 21 livros com temáticas que transitam entre a Espiritualidade e a Comunicação. Fiz trabalhos de cobertura jornalística em três Copas do Mundo: Estados Unidos, França e África do Sul. Conheci pessoalmente um papa que é santo canonizado com direito de contar para ele uma história de pastoral redentorista e fui pré-selecionado para a primeira edição do BBB, da TV Globo.
Não posso encerrar esse texto sem registrar: meu pai foi um homem especial que criou 7 filhos sendo agricultor e marceneiro. Ele faleceu muito cedo, aos 56 anos de idade. Minha mãe é uma mulher sábia e cheia de luz que já ultrapassou os 80 anos de vida. Tenho um irmão falecido e convivo com quatro irmãs lindas, fortes, valorosas e um irmão caçula, um sujeito único que se aventura no mundo da cenografia em TV. E, para fechar as cortinas dessa biografia, menciono a minha maior riqueza: tenho os melhores, os mais inteligentes, os mais elegantes, os mais fantásticos amigos e amigas do mundo! Infelizmente, nem todos eles escolheram torcer para o mais encantador e soberano time de futebol do Brasil: o meu amado Clube de Regatas Flamengo.